2011

Núcleo de Expressão Dramática
Filantrópica – Cooperativa de Cultura
Projecto 2011

                À luz da reestruturação programática, artística e cultural que a Filantrópica – Cooperativa de Cultura vai sofrer no ano de 2011, os seus Núcleos de Expressão Dramática ( juvenil e sénior), vão este ano unir-se na construção de um único espectáculo teatral, procedendo à tentativa de construção de um objecto artístico que, comparado a anteriores produções, será inovador nos seus métodos de criação, na sua relação com o público e comunidade e no seu registo estético.
                A base do trabalho será “A Tragédia do Rei Ricardo III” de William Shakespeare, uma peça única da dramaturgia ocidental, inscrita no género “shakespereano” das tragédias históricas, tendo como centro o infame Ricardo, duque de Gloucester, a sua ascensão ao trono de Inglaterra e a sua queda na batalha dos campos de Bosworth, uma fábula intemporal sobre a natureza da tirania, sobre a distância que existe entre a verdade e percepção que dela temos, sobre a deformidade interior e exterior de um homem, sobre a mutabilidade e inconstância do ser humano. No tratamento deste texto, a principal directriz da encenação será a procura da desfragmentação psicológica da personagem principal, almejando construir-se, a partir das várias vozes contenciosas que assombram a mente de Ricardo, uma performance coral, um ensemble de vários pequenos “ricardos” que, em conjunto, dominarão a cena, impelindo toda a máquina dramatúrgica numa corrida vertiginosa até ao desenlace final.
                Para apresentação deste objecto artístico, os usuais espaços de que ambos os núcleos sempre se valeram (o Auditório Municipal e a sede da Filantrópica) não nos pareceram adequados, tanto pela impossibilidade de realização de alguns jogos de interacção entre os actores e o público (e que nos parecem indispensáveis neste trabalho) como pela sua própria “personalidade”. Necessitávamos de um espaço soturno, vasto, degradado, com uma aura forte e, ao mesmo tempo, debilitada, que conferisse ao texto uma dimensão quase litúrgica e o deixasse soar como o eco de um tempo passado, imponente, mas, em última análise, desprovido de real materialidade, fantasmagórico e assombroso na sua essência dramática. Assim sendo, escolhemos a antiga Garagem Linhares, na Praça do Almada, por não só possuir todas as características que procurávamos, como também por ser um espaço dotado de uma enorme centralidade e fácil acesso dentro da cidade, espaço esse que, a esta altura, está confirmado como local de apresentação.
                O espectáculo, com apresentações dias 27, 28 e 29 de Maio e 3, 4 e 5 de Junho, estando a sua antestreia prevista para 28 de Abril na XI Mostra de Teatro Escolar da Póvoa de Varzim, será construído reunindo uma plataforma alargada de intervenientes artísticos, das artes visuais e gráficas ao design de som, e, para efeitos da sua produção, tentar-se-á reunir uma bolsa ampla de novos apoios institucionais que tomarão as mais variadas formas, procurando-se, claro está, privilegiar as relações que a Filantrópica, no seu todo, e ambos os núcleos, em particular, já têm vindo a cimentar ao longo do seu percurso, tais como a Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, a Escola Secundária Rocha Peixoto e o Museu Municipal e Etnográfico da Póvoa de Varzim.
                Como nota final, é de realçar o facto do processo de criação do espectáculo estar a ser objecto de registo audiovisual, reunindo-se material em primeira mão não só do decurso dos ensaios como também de entrevistas a todos os elementos da equipa criativa, tendo-se como objectivo a criação de um documentário sobre o espectáculo, as pessoas que o compõem, a filosofia de trabalho que o guia e os percalços e desvios que o afligem, tendo a estreia desse documentário data marcada para o Verão de 2011 numa das novas infra-estruturas da Filantrópica.